QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO

Regina Helena do Nascimento*


O tema qualidade de vida tem sido objeto de reflexão devido a busca de melhores condições de vida, devendo ser enfatizada a promoção da saúde, englobando diversos fatores que determinam a qualidade de vida da população. Pode-se afirmar que a saúde é um dos principais parâmetros, porém há vários indicadores que visam quantificá-la, e serão abordados posteriormente.

Na I Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde realizada em 1986, em Otawa, foi elaborada a Carta de Ottawa, que propõe, dentre outras atuações, cinco campos centrais para a promoção da saúde:

*Elaboração e implementação de políticas saudáveis, devendo ser prioridade no setor saúde, incluindo legislações, medidas fiscais, mudanças organizacionais, além de ações intersetoriais que visem a equidade em saúde, distribuição de renda e políticas sociais.

*Criação de ambientes favoráveis à saúde, incluindo tanto a conservação do meio ambiente e recursos naturais quanto o ambiente de trabalho, lazer, lar, escola, cidade, devendo estes serem valorizados pelo setor saúde.

*Reforço da ação comunitária, enfatizando o seu poder técnico e político para fixar prioridades, propor intervenções e estratégias que assegurem melhor nível de saúde, através de informação e educação em saúde.

*Desenvolvimento de habilidades pessoais, sendo imprescindível informações e educação em saúde para que os indivíduos tenham consciência da importância do coletivo em saúde e da sua responsabilidade para a promoção da saúde.

*Reorientação do Sistema de Saúde para priorizar a promoção da saúde, além de serviços assistenciais, de acordo com a mudança do paradigma da saúde, sendo descartado o modelo biomédico e individualista para o de promoção da saúde com abordagem coletiva. (BUSS, 2000)

É importante destacar que a promoção da saúde é um dos fatores para garantir melhor qualidade de vida da população. Segundo MINAYO, HARTZ & BUSS (2000,10) deve-se "respeitar a satisfação das necessidades mais elementares da vida humana: alimentação, acesso a água potável, habitação, trabalho, educação, saúde, lazer, conforto, bem-estar e realização individual e coletiva."

De acordo com os mesmos autores, para a obtenção da medida da qualidade de vida, foram desenvolvidos instrumentos para quantificá-la, sendo o mais difundido o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Este indicador avalia a capacidade do indivíduo, ou seja, o que está apto a realizar, através da análise das condições de renda, educação e saúde da população como elementos fundamentais para a qualidade de vida:
- Renda: avaliada pelo Produto Interno Bruto (PIB) real per capita;
- Saúde: avaliada pela esperança de vida ao nascer;
- Educação: avaliada pela taxa de alfabetização de adultos e taxas de matriculados nos níveis primário, secundário e terciário combinados.

Para MINAYO, HARTZ & BUSS (2000) o IDH tem boa aceitação, podendo ser aplicado em realidades distintas, mas apresenta limitações para comparar a qualidade de vida entre territórios ou mesmo ao longo do tempo, bem como tem dificuldade para delimitar se houve crescimento ou desenvolvimento no território. Este indicador foi importante para o surgimento de outros que também visam quantificar a qualidade de vida, porém têm menor divulgação.

Pode-se citar o Índice de Condições de Vida (ICV), desenvolvido pela Fundação João Pinheiro, em Belo Horizonte, em 1998 e foi posteriormente adequado e utilizado pelos demais municípios brasileiros. Este índice é composto por cinco dimensões: renda; educação; infância; habitação e longevidade, abordando vinte aspectos distintos. O Índice de Qualidade de Vida (IQV) é um outro indicador, elaborado pela Folha de São Paulo, em 1999 que inclui nove itens, sendo eles: trabalho; segurança; moradia; serviços de saúde; dinheiro; estudo; qualidade do ar; lazer e serviços de transporte.

Com relação a qualidade de vida no trabalho houve grandes progressos devido ao modo de organização do trabalho, estando parte das empresas valorizando seus integrantes, possibilitando maior atuação no processo de produção, aumento da motivação no trabalho e garantindo uma maior qualidade do produto, bem como o favorecimento da saúde mental e física do trabalhador.

Para LACAZ (2000,156)"é inadmissível falar em qualidade do produto sem tocar na qualidade dos ambientes e condições de trabalho, o que seria sobremaneira auxiliado pela democratização das relações sociais nos locais de trabalho".

Para proporcionar condições para que haja melhora na qualidade de vida no trabalho e do trabalhador algumas empresas preocupadas com este enfoque e em manter também a qualidade de seus produtos e a produtividade têm utilizado estratégias para favorecer estas condições, como por exemplo, a ginástica laboral, períodos de descanso dentro da rotina do trabalho (pausas), maior participação do trabalhador na organização e tomada de decisões no processo de produção, dentre outras.

Segundo COCCO (2001) as empresas devem pensar a saúde do trabalhador numa nova perspectiva, a da promoção à saúde no trabalho, que tem reflexos na competitividade das empresas e do próprio país, além de investir na qualidade de vida no trabalho e do trabalhador. Isso ocorre devido a determinados aspectos serem importantes tanto para a empresa quanto para o país, como é o caso do custo com os dias de afastamento, a retirada precoce do trabalho por invalidez e os acidentes de trabalho. Deve ainda ser considerada a relação saúde mental e trabalho, uma vez que tem-se elevado o número de pessoas acometidas, principalmente por distúrbios leves, como ansiedade, tristeza, depressão e stress.

A qualidade de vida no trabalho (QVT), de acordo com CHIAVENATO (1999, 391)"representa em que graus os membros da organização são capazes de satisfazer suas necessidades pessoais através do seu trabalho na organização."

O mesmo autor destaca os fatores envolvidos na QVT, que são: "a satisfação com o trabalho executado; as possibilidades de futuro na organização; o reconhecimento pelos resultados alcançados; o salário recebido; os benefícios auferidos; o relacionamento humano dentro do grupo e da organização; o ambiente psicológico e físico do trabalho; a liberdade e responsabilidade de decidir e as possibilidades de participar." CHIAVENATO (1999,391)

Deste modo, tanto as características individuais quanto as organizacionais são determinantes para a qualidade de vida no trabalho. Alguns autores propõem modelos de QVT, que serão abordados abaixo:

De acordo com NADLER & LAWER apud CHIAVENATO (1999, 392) a QVT está fundamentada em quatro aspectos:
"1- Participação dos funcionários nas decisões.
2- Reestruturação do trabalho através do enriquecimento de tarefas e de grupos autônomos de trabalho.
3- Inovação no sistema de recompensas para influenciar o clima organizacional.
4- Melhoria no ambiente de trabalho tanto físico quanto psicológico."

Segundo HACKMAN & OLDHAN apud CHIAVENATO (1999, 392) as dimensões dos cargos refletem em aspectos psicológicos que afetam os resultados pessoais e de trabalho, que interferem na QVT. Estas dimensões do cargo são:
"1- Variedade de habilidades.
2- Identidade da tarefa.
3- Significado da tarefa.
4- Autonomia.
5- Retroação do próprio trabalho.
6- Retroação extrínseca.
7- Inter-relacionamento."

Os referidos autores "utilizam um modelo de pesquisa sobre o diagnóstico do trabalho baseado em um inventário de diagnóstico das características do cargo para medir o grau de satisfação geral e o grau de motivação interna como diagnóstico da QVT". CHIAVENATO (1999, 392)

O terceiro modelo de QVT é de WALTON, que estabelece oito fatores que afetam a QVT:
"1- Compensação justa e adequada - remuneração do trabalho adequada.
2- Condições de segurança e saúde no trabalho - jornada de trabalho e ambiente físico adequados.
3- Utilização e desenvolvimento de capacidades - desenvolver a autonomia, autocontrole e obter informações sobre o processo total do trabalho.
4- Oportunidades de crescimento contínuo e segurança - desenvolvimento pessoal e segurança no emprego de forma duradoura.
5- Integração social na organização.
6- Constitucionalismo - estabelecimento de normas e regras da organização,além de direitos e deveres do trabalhador.
7- Trabalho e espaço total de vida - o trabalho não deve absorver todo o tempo e energia do trabalhador.
8- Relevância social da vida no trabalho - o trabalho como uma atividade social que traga orgulho para a pessoa participar da organização." CHIAVENATO (1999, 393)

Através destes modelos, pode-se perceber a importância da empresa valorizar os trabalhadores, enfatizando as condições físicas e psicológicas dos mesmos, possibilitando oportunidades para estarem em sintonia com os objetivos da instituição. Assim, ao investir em melhores condições de vida no trabalho e do trabalhador, a empresa estará investindo indiretamente na elaboração de seus produtos, garantindo uma melhor qualidade e produtividade.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MINAYO,M. S. C.; HARTZ, Z. M. A.; BUSS, P.M. - Qualidade de vida e saúde: um debate necessário.Ciência & Saúde Coletiva - n. 05, vol. 01, 2000.

BUSS, M. P. - Promoção da saúde e qualidade de vida. Ciência & Saúde Coletiva - n. 05, vol. 01, 2000.

LACAZ, F. A. C. - Qualidade de vida no trabalho e saúde / doença. Ciência & Saúde Coletiva - n. 05, vol. 01, 2000.

COCCO, M. I. M. - Promoção à saúde no trabalho. Projeto de Pesquisa. Campinas, 2001.

CHIAVENATO, I. - Gestão de Pessoas; o novo papel dos recursos humanos nas organizações. Rio de Janeiro: Campus, 1999.


* Aluna do Curso de Graduação em Enfermagem da Unicamp e bolsista de Iniciação Científica do PIBIC - CNPq.
Orientadora Profa. Dra. Maria Inês Monteiro Cocco.
Co-orientadora Profa. Dra. Maria Helena Baena de Moraes Lopes.


Voltar