O ENFERMEIRO E A CRECHE

Por muito tempo houve uma persistência de uma imagem da creche assistencialista, vista até mesmo de uma forma pejorativa, como um local que iria suprir a falta da mãe, destinada a população pobre e unindo um bando de crianças abandonadas, pouco amadas ou órfãs. Já às crianças de melhor renda, estavam destinados os berçários, mini-maternal, escolinhas, hotelzinho ou centro integrado de educação infantil.

A partir da década de 60, algumas pesquisas demonstravam que as creches não eram tão prejudiciais como se afirmavam e originaram-se políticas de incentivo ao trabalho materno (PELICIONI, 1997, MOTTA, 1996).

Após a Constituição de 1988 (art. 208, inciso IV), a creche tornou-se um direito da criança, dever do Estado e de caráter universal. Porém em virtude dos escassos recursos disponíveis, utilizam-se de critérios sócio-econômicos para a triagem das crianças, na grande maioria das creches. E esta passou a ser vista como um lugar que contribui para a educação e sociabilização de crianças.

A Secretaria da Família e Bem-estar Social da Prefeitura Municipal de São Paulo (FABES apud PELICIONI, 1997) considera a creche como um espaço de promoção de saúde e prevenção de doenças, trabalhando também a família das crianças. Sendo a saúde compreendida como um processo dinâmico, envolvendo aspectos biológicos e mentais, em interação com o meio ambiente, familiar e social. A maior parte das crianças envolvidas às creches, pertencem aos grupos de idade mais vulneráveis a doenças e portanto este estabelecimento tem a responsabilidade de velar pela saúde das crianças.

Cabendo à creche a prevenção e a promoção da saúde, não a assistência curativa, venho neste espaço defender a importância da presença do enfermeiro na creche, pois, concordo com Kakehashi quando afirma que: "o enfermeiro tem papel relevante na prevenção e identificação precoce de alteração ou agravo no processo do desenvolvimento infantil". A mesma autora considera a creche como "um equipamento social importante e necessário para o atendimento da população pré-escolar e deve entre outros objetivos prestar assistência integral à criança, proporcionando-lhe estimulação, alimentação adequada, supervisão e vigilância do crescimento e desenvolvimento, bem como prevenção de doenças e acidentes".

A própria UNICEF participou na formação de creches comunitárias no Ceará, baseada numa proposta libertadora, democrática e participativa, com grande respeito à identidade histórica e cultural da criança. Uma preocupação constante deste projeto era a integração saúde-doença, pois acreditam que ambas caminham juntas (OLIVEIRA, 1993) e eu acrescentaria a fundamental necessidade de se vencer barreiras e conflitos e de se investir num trabalho interdisciplinar.

FOCESI afirma ser irrefutável que o ambiente coletivo e promíscuo da creche ofereça maiores riscos de contaminação, especialmente se as regras estritas de higiene não forem seguidas, além de aspectos do próprio prédio (insolação, ventilação e umidade). Mais do que na população infantil em geral, nas crianças de creche são muito comuns os resfriados, as diarréias (infecciosa ou parasitária), os problemas de pele (sarna, impetigo, micose e piolho), assim como as doenças infecciosas comuns da infância (catapora, sarampo, caxumba) e outras como hepatite e escarlatina.

Este trabalho não propõe uma medicalização das creches, mas sim que as crianças sejam assistidas pelos recursos de saúde da comunidade e, concomitantemente, sejam por um profissional capacitado a detectar e controlar precocemente a transmissão de patologias comuns da infância. O novo milênio chega trazendo como necessidade básica a multidisciplinaridade para se atingir a excelência, um exemplo já está sendo aplicado num hospital de Campinas, o Boldrini, que apresenta em seu quadro de profissionais professores e educadores escolares e afirmam:

"Para nós não basta tratar, é necessário ajudar as crianças nos desafios do mercado futuro. A multidisciplinaridade existe para dar esta abordagem única, humana e holística aos nossos pequenos doentes, proporcionando um melhor cuidado para ele e sua família."

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FOCESI, M.C. Creches. Relatório. São Paulo, 1991.

KAKEHASHI, S. Avaliação de Alguns Aspectos do Desenvolvimento Motor Grosso e Fino, Adaptativo, Pessoal Social e de Linguagem das Crianças de 2 a 6 Anos de Idade da Creche "Maria Aparecida Carlini", Jardim Sabiá, São Paulo, SP, 1987. Dissertação apresentada à Escola Paulista de Medicina, para obtenção do grau de Mestre. São Paulo, 1990.

MOTTA, M.A. A creche: uma instituição a procura de identidade Rev. Cresc. Desenv. Humano. São Paulo, 6(1/2), 14-18, 1996.

OLIVEIRA, D.C. Capacitação de Recursos Humanos: algumas experiências Rev. Cresc. Desenv. Humano. São Paulo, 3(1), 170-183, 1993.

PELICIONI, M.C.F. & CANDEIAS, N.M.F. A creche e as mulheres trabalhadoras no Brasil Rev. Cresc. Desenv. Humano. São Paulo, 7(1), 79-86, 1997.


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