PRINCÍPIOS DE CIRURGIA ONCOLÓGICA


Dr José Higino Steck

INTRODUÇÃO

A Oncologia é a ciência que estuda o Câncer nas suas diferentes formas. Existem vários tipos de câncer (cerca de 120), e, por isso mesmo seu tratamento é complexo e exige às vezes abordagem por diferentes especialistas.
A Oncologia é dividida em : Oncologia Cirúrgica ( ou Cirurgia Oncológica ) , cujo especialista é o cirurgião oncologista, tema da nossa discussão. Oncologia Clínica(que faz os tratamentos com quimioterapia) Radioterapia.
Cada tipo de câncer apresenta diferentes características e pode precisar de um ou mais tipos de tratamento associados.
A cirurgia foi o primeiro tratamento que alterou significativamente o curso da doença neoplásica (ou câncer), e até hoje um dos principais.
Estima-se que cerca de 60% de todos os pacientes portadores de câncer necessitam cirurgia para o seu tratamento, e quase todos são submetidos a algum tipo de procedimento cirúrgico para diagnóstico (como a biópsia) ou estadiamento da doença. Em geral os casos mais iniciais são os melhores candidatos à cirurgia pois apresentam os melhores índices de cura.
O advento da quimioterapia e novas técnicas de radioterapia, veio contribuir para o tratamento da doença microscópica (invisível a olho nu), o que permitiu nos últimos anos uma nova abordagem na extensão da cirurgia para o câncer. Por exemplo, no tratamento do câncer da mama, um dos mais frequentes em mulheres, é possível hoje lançar mão de cirurgias menos radicais (que preservam a mama ao invés de tirá-la na totalidade), que associadas à radioterapia e/ou à quimioterapia, permitem a mesma chance de sobrevida que as cirurgias mais radicais (que são mais mutilantes e apresentam maior índice de complicações).

O que é Câncer

Câncer, ou tumor maligno, ou neoplasia maligna, é uma doença que se origina nas células do corpo humano, que perdem o controle sobre si mesmas, e começam a crescer sem parar. Como se originou em uma célula do próprio organismo, o corpo humano não reconhece o câncer como agente agressor e não ativa seus mecanismos de defesa. Desse modo o tumor vai crescendo e matando as células normais, e pode cair na circulação linfática e sanguínea, podendo crescer em outros locais do corpo, que são as chamadas metástases linfáticas e hematogênicas.
O câncer é hoje a segunda causa de morte no Brasil, vindo após as doenças cardiovasculares (como derrame cerebral ou infarto do miocárdio). Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o câncer deverá se tornar uma verdadeira epidemia mundial devido ao aumento da esperança de vida e à difusão de hábitos que predispõem à doença, como tabagismo e má alimentação.
O câncer é considerado uma doença crônica, pois tem uma evolução relativamente lenta, e é hoje a mais curável de todas as doenças crônicas. Uma das principais causas de insucesso no tratamento de câncer no Brasil é a má condução do tratamento por não especialistas. O câncer deve ser tratado de forma ideal logo no início porque, se houver erro, é quase impossível corrigi-lo. Na maior parte dos casos quando o câncer volta (recidiva), fica muito mais difícil, às vezes impossível, salvar o paciente.

Cirurgia oncológica

Como vimos a cirurgia é um dos principais tratamentos para o câncer. Muitos tumores podem ser tratados com cirurgia exclusiva, outros com combinação de cirurgia mais radioterapia, ou ainda cirurgia + radioterapia + quimioterapia.
De um modo geral, os tumores de crescimento lento são os melhores candidatos à cirurgia, e a cirurgia inicial para câncer tem maior chance de cura que a cirurgia para recidivas.
Por esse motivo a cirurgia oncológica deve sempre ser realizada por um especialista. Além dos cuidados normais de assepsia e hemostasia de todas as cirurgias, as cirurgias para tratamento de câncer apresentam algumas particularidades. Por exemplo, deve-se sempre manipular os tumores com cuidado, para evitar que células cancerosas ganhem a corrente sanguínea e causem metástases.
A presença de margens cirúrgicas livres é outro ponto fundamental em cirurgia oncológica, sendo que todo tumor deve ser retirado com uma margem de tecido normal ao redor, para evitar que células microscópicas causem recidiva, e sempre que indicado, deve-se retirar os linfonodos adjacentes na primeira cirurgia, devido ao risco de metástases regionais (ou linfáticas)..
Algumas características das células cancerosas fazem com que elas se implantem em tecido normal , ou seja, podem crescer em outro local se não forem manipuladas adequadamente. Assim, o cirurgião oncologista e sua equipe devem evitar tocar no tumor durante o ato cirúrgico, para não implantar em outros locais. Após a retirada do tumor toda a equipe deve trocar as luvas, pois podem estar "contaminadas" por células tumorais, e deve-se trocar também todo o material cirúrgico usado pelo mesmo motivoAinda para evitar implante da célula tumoral, após a retirada do tumor lava-se o leito cirúrgico exaustivamente para retirar possíveis células cancerosas. Nesse sentido o uso de água destilada é mais indicado pois cria um meio hipo-osmolar que causa a ruptura de células cancerosas que podem estar presentes.
Todo material retirado em cirurgia tem que ser enviado para exame anátomo-patológico. Mesmo em cirurgias menores , que a princípio podem não ser consideradas oncológicas, o exame microscópico pode mostrar o contrário. Por exemplo, é pratica comum entre médicos desavisados não enviar pintas e pequenas lesões retiradas da pele para exame, e às vezes elas podem representar tumores de pele, que são muito comuns, e altamente curáveis no início. Outro exemplo é um apêndice retirado em uma apendicectomia comum, que em alguns casos raros pode mostrar a existência de um tumor ao exame anátomo-patológico.
Em cirurgia oncológica também o exame anátomo-patológico é essencial para determinar as margens cirúrgicas (que devem ser marcadas para o patologista), e cada material retirado durante a deve ser imediatamente identificado e enviado separadamente.


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